quinta-feira, 17 de julho de 2008

Coisas de Pobre

Quem nunca subiu numa laje, no telhado ou em qualquer outro lugar, para arrumar uma antena?
Rico. Porque estes tem tv por assinatura.
Já a grande maioria de nós pobres coitados, já passamos por essa vergonha pública. Vergonha, porque sempre tem seu colega que passa na rua, namorada, chefe e no meu caso, um vizinho chato. Era eu subir, que aquele encherido saía olhar, ou aparecia como um vulto na janela, achando que era um ladrão.
Ladrão desgraçado esse. Porque pra roubar aquele infeliz, só sendo um miserável, porque meu vizinho não tem nada de valor, só os ratos que tem por lá que acho que dá pra levar para o circo.
Meu vizinho ele é tão pobre, que na porta da casa dele tem uma plaquinha: "Não bata, que cai". O problema é que você não sabe se vai cair a porta, ou a casa. Meu vizinho num é pobre...é desgraçado, lascado mesmo.
Teve uma vez que eu entrei na casa dele, contra a minha vontade, e eu não sabia se tinha mais tijolo na parede, ou dentro da casa. Tudo tinha calço de tijolo, o sofá, cama, fogão, pia, geladeira, acho que tudo se resolvia com tijolo naquela casa: "A criança tá chorando, dá um tijolo pra ela".
O cara num tinha fiação elétrica, tinha umas gambiarras grudada até com chicletes no teto, dava medo de olhar, parecia sabonete velho, grudento e com fios pra todo lado. Era incrível.
Uma coisa que eu achava legal é que a televisão do meu vizinho mudava de canal no grito: "Richard, seu burro, muda de canal". E mudava, da globo, pro sbt ou record, o que na verdade não muda muito.
E isso é uma coisa que eu não consigo entender de pobre gritar. Pobre grita pra tudo, pra falar com os filhos, pra chamar os outros na rua, pra conseguir seus direitos e até pra falar no celular.
O meu vizinho gritava direto com os filhos, que aliás, eu não sei direito quantos filhos ele tinha, cada hora chamava por um nome, era Richard, Wanya, até aí tudo bem, esses eu conhecia, mas eu nunca conheci o seu burro, a sua anta, seu cavalo, sua vaca, e eu acho, tenho quase certeza que o seu merda que ele chama, é aquele do Terça Insana.
Mas, voltando em gritar, meu vizinho gritava até com o carro, que também funcionava no grito: "Seu lerdo, vem empurrar que senão não pega". Se bem que meu vizinho não tinha um carro, aquilo era um encosto, nem pra encosto que aquilo não tinha, era uma cadeira de plástico improvisada, meu, aquilo não era um carro, era uma praga, uma maldição, sei lá.
Esse é daqueles carro que parece bicicleta, se perder o embalo na subida, é melhor descer e ir empurrando do lado.
Não dava nem pra chamar de lata-velha, porque nem tinha lata direito, era só ferrugem, tem mais ferrugem que as juntas da Dercy.
Tinha um parte que ele remendou com um pedaço de pneu velho, pra num ficar um buraco no piso do carro, ele fez isso porque ele parecia o Fred, dos Flinstones. Ultimamente ele não esta usando o carro, porque da última vez que funcionou, fez tanta fumaça que ele levou uma multa por colaborar com o aquecimento global.
Outra coisa que me intrigava era o varal. Porque ele num era de cordinha, fio, barbante. Era de arame farpado. E era tão enferrujado que a mulher dele não passava as camisas, jogava óleo, o filho dele pegou uma do "varal" e colocou, pegou tétano. Depois que eu vi o "varal" deles é que eu descobri porque que as roupas dele tinha mais furo que barraco da Rocinha.
O meu vizinho se lascava muito por ser pobre. Expulsaram ele até da macumba, porque ele fez uma mandinga com caldo knorr e uma vela de sete dias pra economizar.
Ele vivia duro, mais duro que as perucas da Hebe, um dia ele veio me pedir um dinheiro, e eu recusei, dar dinheiro pra pobre, é pior que colocar de sacanagem que você é gay no orkut, porque um monte de gente fica sabendo e querendo tirar uma casquinha sua depois.
Aí ele ficou sem falar comigo, ainda bem, porque ele tinha um bafo que era maldade, ele falava que era por causa da ponte que ele tinha, só que parecia que tinha alguém cagando lá.
Mas ele num ficou bravo só por isso, eu também falei umas verdades pra ele.
Porque comigo é assim, escreveu num leu, pra mim é semi-analfabeto.

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